6 de maio de 2015

Na Natureza Selvagem

Alguns filmes tem que, obrigatoriamente, serem revistos...
...de tempos em tempos. As situações, a experiência, os sentimentos, tudo muda de tempos em tempos e por mais que nosso caráter e nossa essência permaneçam as mesmas (ou pelo menos deveriam), a visão sobre o mundo, o que vivemos, o que queremos e sobre o futuro, muda de acordo com o ambiente e circustâncias.

Eis que um dos filmes dessa lista é "Na Natureza Selvagem" (2007).

Antes de qualquer citação sobre o que o filme quer dizer, se você ainda não o viu, por favor, faça essa gentileza a si mesmo e vá ver ele agora...sim...agora...eu espero. Ok, talvez se você não o viu, não o vai fazê-lo agora, então, te digo que deve vê-lo o mais breve possível. Para quem não viu e para quem já viu, compartilho aqui com vocês minha singela visão sobre o filme.


Primeiro, a visão de 2011, onde eu assisti mais pelo hype tardio por conta da trilha sonora majestral de Eddie Veder. Assisti de maneira quase robótica, sem entrar no filme, mais preocupado com as minhas preocupações sem importância da época (mas que eram muito importantes naquele tempo) e não captei a essência do que aquela história queria realmente me dizer.

Pulamos pra 04/05/2015, 02h35 da já segunda-feira, onde minha vontade durante alguns segundos foi de sair porta a fora e seguir também, rumo ao Alasca, ou a qualquer lugar que pudesse ter o mesmo encontro interno que o protagonista dessa história teve. Claro que queria um final diferente, mas será que temos mesmo alguma chance de escolher algo nessa vida?

Christopher McCandless (Emile Hirsch - em interpretação marcante e injustamente não reconhecida como deveria) era um cara de 22 anos que após se formar com honras resolve se livrar de todas as amarras da vida em sociedade e resolve partir rumo ao Alasca. Mas o que poderia ser só mais uma viagem confortável para o jovem com família abastada, se torna uma fuga daquilo que considerava um mal que o assolava.

A segurança financeira que os pais ( Marcia Gay Harden e William Hurt), o futuro quase que já traçado não faziam de Chris um jovem completamente satisfeito. Influenciado por suas leituras de Tolstoi e Thoreau, as relações humanas já não era mais as mesmas, a exceção de sua irmã Carine (Jena Malone), e havia ali uma necessidade imensa de auto-conhecimento. Precisava ter contato com a natureza, na sua forma mais pura e simples.
Então, partindo rumo ao norte, adota o nome de Alexander Supertramp, se desfaz da sua vida anterior e começa a sua jornada como andarilho.

Questões como liberdade, vida em sociedade, relacionamentos com o próximo...são questões permanentes no filme e permeiam por todos os atos de formas interligadas. Enquanto acompanhamos a viagem de Chris, entendemos (ou tentamos) um pouco de suas motivações: as decepções com os pais, a falta de perspectiva, uma vida vazia e sem sentido e algumas outras que são levantadas de maneira velada e mesmo que não explicítas no filme, mas ficam a cargo do espectador a compreensão dessas questões.

A cada encontro em seu caminho, a cada empecilho que encontra, a cada vitória, a jornada de nosso protagonista nos ensina como cada vez é mais estranho e distante a relação do ser humano com ele mesmo.
"Na Natureza Selvagem" não é um filme fácil. Não é um filme para se assistir em um sábado a tarde...a instropecção é necessária para entender o senso de urgência que "Alex" sentia em se desprender de verdade de tudo. E a instrospecção é mais necessária ainda para enteder, mesmo que junto com o nosso protagonista, que quanto mais ele tenta se desperender de tudo, mais próximo de tudo se chega.

Sem entrar muito nos pontos cruciais do enredo, gostaria de destacar a construção que Sean Penn, roteirista e diretor, fez para o seu filme. A divisão em capítulos, que levam justamente o nome das fases de uma vida humana, dá mais sentido ao que está sendo contado. Mesmo que isso seja feito de forma sútil.
Complete isso com um elenco de apoio que não deixa a peteca cair um momento se quer. Jena Malone e sua narração em off, como uma advogada de seu irmão com as justificativas por suas ações dão o tom necessário para entendermos que aquilo não era apenas rebeldia juvenil. Marcia Gay Harden e William Hurt refletindo claramente o desespero de pais que acham que erraram e não percebem as necessidades de seu filho quando ainda estava por perto e nos enche os olhos com atuações seguras e fortes. Catherine Keener e Brian H. Dierker, como o casal hippie que ajuda Chris no caminho são o equilíbrio em um momento em que a fita poderia perder seu rumo. Vince Vaughn, como um patrão meio maluco e até mesmo uma jovem Kristen Stewart, mandam bem.

Agora o destaque mesmo é Hal Holbrook que fecha um ciclo e nos entrega uma atuação soberba e que também evidencia o talento de Emile Hirsch em acompanhar o show do ator.
No final, "Na Natureza Selvagem" entrega um retrato cru e sem firulas de uma história real que entre julgamentos e questionamentos sobre as ações de McCandless, trazem um final de reflexões sinceras e necessárias sobre o rumo que estamos dando para nossas vidas. E descobrir que talvez a natureza mais selvagem que tenhamos é a que reside dentro de nós mesmos.

Mas uma certeza fica: felicidade só é real, quando compartilhada!

Trailer:


Ficha Técnica
Na Natureza Selvagem (Into The Wild) - 2008 - 148 min. - EUA - Drama/Aventura
Direção: Sean Penn
Roteiro: Sean Penn (roteiro), Jon Krakauer (livro)
Elenco: Emile Hirsch, Jena Malone, Marcia Gay Harden, William Hurt, Catherine Keener, Vince Vaughn, Kristen Stewart, Brian H. Dierker, Hal Holbrook
Site Oficial: n/d
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