Aos gritos de Dave Grohl ao fundo, Jasmin parece acordar de um pesadelo que parecia não ter fim.
A canção mexe com a cabeça da garota e a reflexão inevitável se transforma em decisão: prestar vestibular é o caralho. Pensa rápido em tudo o que precisa para fazer a viagem que sempre sonhou. As montanhas do Himalaia não são ali do lado e o seu inglês de escola mequetrefe parece não ser o suficiente.
Não é algo que lhe desanima.
A conta no banco dispõe pra ela uma segurança de meio mês - torce pra que o dólar caia até o dia da partida (coitada).
"A próxima saída pro Himalaia, por favor?"
"Senhora, não temos linhas diretos para o Himalaia."
Pegou o mapa que estava em sua mão esquerda, suada e ainda com o bracelete que ganhou do pai no 12º aniversário.
"A próxima passagem pra Índia, por favor."
O cartão de crédito, "emprestado" da mãe, lhe seria útil somente nessa situação, já que a classificação Internacional não se enquadra no perfil financeiro da família.
Durante aquela semana, a despedida mental do namorado, dos amigos, do cachorro Boris foi algo que mexeu muito com os sentimentos daquela moça. Mas a decisão estava tomada. Seria inevitável a dor, a solidão. Mas a vontade de finalmente alcançar a paz que nunca encontrou, nem mesmo nas montanhas mágicas do interior mineiro (São Thomé, saudades), a movia pra frente.
Mesmo sabendo que o futuro seria incerto, acordou por volta das 05hs. Uma carona até Guarulhos não cairia tão mal, mas o beijo na mãe foi rápido e pareceu mais uma formalidade que deveria ser cumprida.
Não, a culpa não era dela. A decisão surgiu simplesmente da explosão de frustrações e decepções acumuladas durante aqueles anos de vida.
Ao embarcar no avião, deixou mais do um peso nas costas. Deixo viva a necessidade de saber quem ela realmente ela.
E desde então, ninguém mais roubou seus sonhos. E desde então ninguém mais roubou seus planos. A vida era só dela.