É apenas mais uma noite quente na cidade e não há nada melhor pra fazer. Todos os amigos estão viajando e o único refúgio é uma saída rápida com seu fiel companheiro.
Nada na TV...as emissoras reprisam tudo. Enquanto isso, a inquietude de Sancho, com pulos e mais pulos, torna os passos mais apressados em meios aos pensamentos que o rodeiam. "Como pode tá tudo bem, mesmo não estando?".
E com pulos cada vez mais sinceros, Sancho aponta um novo caminho, uma liberdade do outro lado do muro. "Vamos então...", Quixote concorda.
Aquela conferida na coleira do parceiro, e a calma toma conta, já que não haviam preocupações, daquelas mundanas. Casa limpa, contas pagas e o trabalho pra agência já estava pronto desde a tarde passada. Bateu a mão no bolso, e achou alguns trocados para a cerveja da semana.
Sensação estranha ao olhar aquele parque, que há tempos só vivia vazio. A tal da liberdade era apenas para o cãozinho que parece mais sereno, pois cessaram os pulos. Tudo fazia sentido: uma linda cadelinha com sua dona no banco à esquerda. E num desfile em praça pública, fucinho pro alto, as risadas são inevitáveis...e sinceras.
Um olá, um tudo bem e a companhia até o mercadinho do seu Cuca na esquina. Algumas cervejas, cigarro e chocolate na sacola. Algumas palavras, mais outras risadas e um novo contato na agenda telefônica.
Quinta? Não, acharam melhor na sexta à tarde, já que a agenda estava livre à partir das 15hs. A noite prometia, mas o caminho de volta tem de volta a tristeza da solidão.
Alguns casais na praça admiram a esperteza de seu pequeno Sancho Pança. Para Quixote, os pensamentos se embaralham, e o tadinho passa despercebido.
O sorriso amarelo some em segundos. O caminho da volta parece mais longo. E os moinhos de vento vencem os pensamentos positivos. Mais uma noite de solidão...Sancho dormindo. Resta a cerveja quente, o cigarro frio e o resgate de um refém liberto.
"Esperança...vontade...sonhos." Mas o sono chega primeiro...boa noite diz o silêncio.