...me deparei com o mesmo sentimento que senti ao final de Toy Story 3: uma história que aparentemente é simples, mas tem uma complexidade nas entrelinhas tão grande, que me fez perceber que tinha acabado de assistir mais um filme que daqui alguns anos será tido com mais um clássico da Pixar.
Sou muito suspeito pra falar da Pixar. E mesmo com a aparente crise criativa que o estúdio passou nos últimos anos, é impressionante como a revisão de algumas ideias e conceitos fizeram com que eles acertassem em cheio...novo.
A mescla de um enredo, em um mundo totalmente inimaginável (brinquedos falantes, animais falantes, carros falantes, monstros imaginários que existem e são falantes, robôs que se apaixonam...e são quase falantes...bom, você já viu todos né?), que no primeiro momento parece ser simples, mas apresenta questões extremamente complexas e faz com que crianças e adultos se apaixonem por esses personagens que talvez nunca se tornariam "reais" se não fossem essas mentes da Pixar.
Pete Docter, diretor e roteirista do filme, já está acostumado a mexer bastante com as emoções do público. Em Monstros S.A. (2001), Wall-E (2008) e Up - Altas Aventuras (2009), Docter já tinha acertado a mão nesse mix de abordagem simples e entrelinhas complexas, mas parece que agora o desafio era ir além. E o além encontrado partiu justamente da própria experiência do diretor, ao tentar imaginar como que funcionava a mente de sua filha...que de menina alegre estava se tornando mais introspectiva. E o acompanhar dessa fase de sua cria, foi a inspiração para o novo acerto do estúdio.
No filme, vamos acompanhar Riley (Kaitlyn Dias, no original/Isabella Guarnieri, por aqui), uma garotinha de 11 anos de idade que vive feliz e alegre como seus pais (Diane Lane, no original/Sílvia Goiabeira, por aqui e Kyle MacLachlan, no original/Luiz Laffey, por aqui) na sua pequena cidade natal, no Minnesota.
Enquanto somos apresentados a ela, conhecemos os personagens que vivem dentro do cérebro dela. Desde que nasceu, Riley tem a presença da Alegria (Amy Poehler no original/Miá Mello, por aqui), da Tristeza (Phyllis Smith no original/Katiuscia Canoro, por aqui), do Medo (Bill Hader no original/Otaviano Costa, por aqui), da Raiva (Lewis Black, no original/Léo Jaime, sim, ele mesmo, por aqui) e "da" Nojinho (Mindy Kaling, no original/Dani Calabresa, por aqui) no centro de controle do seu cérebro, tomando conta de todo o fluxo de lembranças e memórias que ela guardará, ou não, e das ações a tudo o que acontece durante a sua vida.
As emoções tem como líder a Alegria, que sempre encontra uma forma de mostrar aos seus amigos que a vida de Riley pode ser alegre e feliz.
Só que Riley, precisa lidar com uma grande mudança na sua vida. Ao deixar sua cidade natal, ela tem que se adaptar com uma nova realidade na grande cidade de São Francisco. O choque é inevitável. E esse choque vem justamente de encontro a um acidente no centro de controle que faz com que a Alegria e a Tristeza se percam na imensidão que é o cérebro de Riley.
À partir disso, elas precisam se unir para voltar ao centro de controle para que possam trazer de volta o equilíbrio aos sentimentos da garota.
Ao que parece um roteiro simplório está repleto de camadas que vão além das cores alegres e modelos fofinhos dos personagens. A jornada vivida por Alegria e Tristeza, que contam com a ajuda de Bing Bong (Richard Kind, no original/Fábio de Castro, por aqui), amigo imaginário de Riley e já na lista de um dos personagens mais encantadores que a Pixar já criou, anda em paralelo a um tema muito sério, que mesmo não sendo explicito no filme, mas perceptível para quem já ouviu falar, conhece algum caso ou já passou por uma situação de depressão.
E a forma como as emoções vão se descobrindo, pelo reflexo da idade e das mudanças que Riley vive durante a história, mostra como o amadurecimento torna tangível as indefinições que vivemos e como as coisas não são tão exatas, como as cores de cada sentimento, e que a vida começa a ter outras tonalidades.
Uma rápida auto-análise durante a exibição do filme é permitida e você não vai achar isso nem um pouco estranho.
É evidente essa preocupação em fazer com que o expectador recupere na memória alguns sentimentos e sensações que já viveu para poder entender aquilo que está sendo passado pelos personagens coloridos e bonitinhos.
Fica clara (ok, não tão clara pra quem não se interessa pelo assunto) também as ligações e associações a alguns conceitos psicológicos. As explicações sobre o funcionamento do nosso cérebro, memórias bases, de longo prazo, temporárias, passageiras, sejam elas boas ou ruins, é mostrado de uma forma tão didática e lúdica que encanta pela simplicidade em tratar de um tema tão complexo.
Falando em riqueza, a animação é um show a parte e as cores trabalham totalmente a favor da história e como isso se torna importante para melhor entendimento dela.
Muitas crianças com certeza não entendem parte das piadas e referências que o texto tem. Mas para isso, temos o jeito Pixar de encantar os baixinhos com piadas certeiras e que arrancam risadas fáceis com seus personagens fofinhos e encantadores.
Esse equilíbrio em saber conversar com públicos tão diferentes faz com que adultos e crianças saiam da sala com a certeza de que viram um dos filmes mais divertidos (crianças) e complexos (adultos) que a Pixar já fez. E isso é muito, muito bom!
(Excelente)
TRAILER
FICHA TÉCNICA
Divertida Mente (Inside Out) - 2015 - 94 min - EUA - Animação/Comédia/Aventura
Direção: Pete Docter, Ronnie del Carmen (co-diretor)
Roteiro: Pete Docter, Meg LeFauve, Josh Cooley
Elenco (Vozes Originais): Amy Poehler, Phyllis Smith, Bill Hader, Lewis Black, Mindy Kaling, Richard Kind, Kaitlyn Dias, Diane Lane, Kyle MacLachlan
Elenco (Vozes Brasil): Miá Mello, Katiuscia Canoro, Otaviano Costa, Léo Jaime, Dani Calabresa, Fábio de Castro, Isabella Guarnieri, Sílvia Goiabeira, Luiz Laffey
Site Oficial: http://filmes.disney.com.br/divertida-mente