24 de março de 2016

Demolidor (2ª Temporada)

Escrever sobre algo que você gosta é algo...
...bem simples e fácil quando você encontra as palavras corretas. Engraçado, mas ao mesmo tempo, é uma complicação colocar essas palavras em ordem de uma maneira coerente e compreensível. Mas esse conflito de sentimentos para escrever sobre algo que você admira, muitas vezes tem que passar pelo filtro inevitável da imparcialidade. É escrever é algo que gosto pra caramba!

Ao escrever a resenha da primeira temporada de Demolidor (Daredevil, 2015) tinha a certeza de que a série tinha se consolidado já na história da TV mundial por dois fatores:
1 - era a primeira parceria entre Marvel e Netflix e por isso, um marco para ambas as empresas que tiveram colhões de entregar algo realmente de qualidade aos fãs, tanto do personagem quanto daqueles que gostam de séries de qualidade;
2 - era a certeza de que a série havia se tornado ali, a melhor coisa já feita baseada em quadrinhos na TV.

Logo, a expectativa para a segunda temporada era alta e porra, como superar aquilo? Bom, consigo afirmar, com toda a certeza, que não só essa nova temporada superá em muitos fatores a primeira temporada, mas também entrega material para que o futuro televisivo da Marvel com a Netflix esteja cada vez mais consolidado.
Claro, nem tudo são flores, e assim como no primeiro ano, temos alguns pontos falhos e alguns momentos arrastados durante alguns episódios. Mas falo sobre eles logo a seguir. É importante salientar que essa temporada, apesar de ter a mesma quantidade de episódios que a anterior (13), se apresenta muito mais complexa e com arcos que destacam as novidades dessa temporada: Frank Castle, vulgo Justiceiro (excepcionalmente interpretado por John Berthahl) e Elektra Natchios (interpretada pela bela e esforçada Élodie Yung).

Já aviso aos que não assistiram a temporada, que existem alguns spoilers no texto que se segue, então...siga por conta e risco ok?

Mas a segunda temporada não só adicionou "coadjuvantes" de luxo, mas como também tratou seus "titulares" com muito respeito. E a maior favorecida nesse tratamento foi Karen Page (Deborah Ann Woll, mandando muito bem) e as liberdades que os roteiristas tiveram em transformar ela em uma personagem muito mais relevante que sua contraparte nos quadrinhos. Foggy Nelson (Elden Henson, sempre competente) também teve um destaque, sendo até o protagonista em alguns episódios em que a série flerta com mundo dos tribunais, de forma muito bacana. Outro ponto a favor da temporada, já que nos quadrinhos, esses dois mundos são parte do conflito constante do nosso herói.
A temporada pode ser resumida em duas palavras: manipulação e aceitação. Essa segunda serve muito para Matt Murdock (Charlie Cox, mais uma vez arrebentando) consiga enxergar (sem nenhum trocadilho com a condição do personagem, ok?) que a sua verdadeira vocação, por mais que o conflito ainda exista em uma dose muito menor do que na primeira temporada, é mais como o vigilante de Hell's Kitchen do que como o advogado da Nelson & Murdock. E todos os episódios de certa forma vão lembrando isso a ele.

Não existe mais tempo no roteiro a se perder com o mote do primeiro ano que foi a descoberta da jornada do herói. O Demolidor já é o Demônio de Hell's Kitchen e suas ações já são conhecidas pela população, civil ou criminosa. E esse é um trunfo impagável do roteiro, que entrega no começo da temporada, um herói mais certo de si. E por isso seu embate com Frank Castle se torna tão emblemático. "Você os acerta e eles se levantam. Eu os acerto e eles continuam caídos." - Castle deixa claro que não está nessa para ser um exemplo e fará o possível para buscar sua vingança contra todos aqueles que são criminosos e em especial, aquele que matou sua família.
A adição do Justiceiro no mundo do Demolidor, literalmente traz para a série a questão: até onde as suas ações são eficazes? Os embates, tanto verbais - que soariam chatos não fossem a qualidade dos atores envolvidos - quanto físicos, são poderosos e impactantes. E ai, a série entrega os melhores episódios que uma série de super-herói poderia ver. Na verdade, a qualidade do primeiro arco da temporada é tão poderoso, que será uma grande injustiça se as premiações não se lembrarem deles.

Com outra cena épica no terceiro episódio, os primeiros episódios funcionam quase que como, se isolados, um spin-off do Justiceiro. E isso funciona muito bem. Duvido que a Netflix não começará os trabalhos para entregar esse spin-off completo após essa temporada. É esperar para conferir!

Ação, coreografias bem feitas, roteiro afiado, atuações pontuais. são quatro episódios fantásticos. E após isso, a série começa a arriscar em seu próprio mundo com a introdução de Elektra, uma das personagens mais importantes no mundo do Demolidor nos quadrinhos. À partir desse ponto, temos a divisão do segundo ato em apresenta-la e introduzi-la nesse mundo e a busca das respostas que o Justiceiro precisa para continuar sua buscar por vingança. E a exceção de alguns, dos já citados,  momentos arrastados, a qualidade não caí em nenhum momento.
Elektra mexe com Matt, que se vê com sentimentos do passado que uma vez não deveriam estar ali mais. Stick (Scott Glenn, sempre competente) tem um destaque nesse arco, por descobrirmos que ele de certa forma, é o ponto em comum entre o quase casal. E enquanto o advogado parte em uma investigação junto da ninja para descobrir os planos de uma organização denominada "The Hand" (A Mão, na tradução do Netflix, mas nos quadrinhos por aqui, é conhecida como Tentáculo), as coisas vão se mostrando cada vez mais complexas e fora do "normal". Um fora do "normal" que flerta com o místico e o sobrenatural, uma novidade para a série e dando uma dica do que virá no futuro.

É nesse ponto que a série quase periga em cair de nível, mas o equilíbrio com o arco do Justiceiro é o que salva. Arco esse que traz uma grata e impactante surpresa: a volta de Wilson Fisk (Vincent D'Onofrio, espetacular como na primeira temporada), vulgo O Rei do Crime, onde se mostra ainda tão poderoso quanto o tempo em que estava nas ruas. Uma ameaça que se mostra constante e que, em mais duas das cenas épicas dessa temporada, mostra aos heróis dessa história que o seu poder é muito maior do que até ele mesmo imaginava. Poder de influência, manipulação e comando que deixa o alerta mais que ligado, principalmente em Murdock.

Como disse acima, a palavra aceitação é algo que sempre está presente nessa temporada. Com destaque para a mudança de atitude de Karen Page, que agrega em muito a esse mundo, onde, como já provado pela série "irmã", Jessica Jones, as mulheres do universo Marvel/Netflix são fortes, independentes e conseguem se virar em meio ao caos de suas vidas. As oportunidades criadas com a evolução da personagem, são enormes e com certeza farão muito bem nas eventuais (e inevitáveis) temporadas futuras.
Fica o destaque para um ponto que poderia acabar com a temporada, mas foi tratado de forma simples, mas bacana: o triângulo amoroso entre Page, Murdock e Elektra. A aceitação de sentimentos e verdades fica mais uma vez claro nesses momentos onde, a fragilidade e complexidade desses personagens fica escancarada para o espectador.

Outro exemplo de aceitação sobre o seu papel nesse "novo mundo" de heróis, é vivido pela enfermeira Claire Temple (Rosário Dawson, sempre mandando bem), que aceita que ela é a ajuda que esses que lutam nas ruas precisam quando não há mais ninguém para dar esse suporte. Como se fosse um ponto de encontro entre as séries - Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage - Temple se mostra também no mesmo molde de mulher forte e capaz que a Marvel trouxe para seu mundo com a Netflix.

Foggy, que ainda é o alívio cômico da série, percebe que deverá (e conseguirá) andar com as próprias pernas, aceitando que é um excelente advogado - em outra das cenas marcantes da temporada - uma vez que seu parceiro de advocacia faz uma escolha clara em continuar levando em frente o manto do Demolidor. E ele acaba fazendo também parte do link entre a vindoura série do Punho de Ferro, Jessica Jones e Luke Cage, quando aceita a contratação pelo escritório de Jeri Hogarth (Carrie Ann-Moss, que foi uma terrível coadjuvante em Jessica Jones, aqui em uma ponta).
E assim, com muitas cartas na mesa, e outras várias na manga, Demolidor evolui de uma maneira incrível. Dando bagagem aos seus personagens principais e coadjuvantes para encontrar o equilíbrio perto da perfeição na futura terceira temporada, pois é fato que o final da temporada se mostra um pouco apressado. O roteiro em três ou dois episódios acaba por "enrolar" por demais. Enrolação essa que fez uma única vítima em relação a aceitação do público, que foi a Elektra de Élodie Yung. Coincidentemente, esse problema também foi sofrido por Jessica Jones. Será que 13 episódios é muita coisa? Mas de qualquer forma, não é nada que venha a estragar a experiência e a temporada.
Como saldo final, Demolidor se consolida como a série a ser seguida por todas as tentativas de se fazer uma série de TV, baseada em quadrinhos, de forma excelente e competente. Resta esperar, ansiosamente por uma, se não ainda confirmada, certa terceira temporada no mesmo, ou alcançando o nível de perfeição que quase foi alcançada nessa temporada.

AVALIAÇÃO do ALTER EGO:
(Excelente)

TRAILER 1:


TRAILER 2:


FICHA TÉCNICA:
Demolidor (Marvel's DareDevil) - 2015 - 52 min. (episódio) - EUA - Drama/Ação/Polícia/Fantasia
Direção: Vários
Roteiro: Vários
Elenco: Charlie Cox, Elden Henson, Deborah Ann Woll, John Berthahl, Élodie Yung, Rosario Dawson, Vincent D'Onofrio, Scott Glenn
Site Oficial: http://www.netflix.com/



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