Nota: esse post está originalmente no meu novo projeto com meu amigo Mario Vianna, o Manguaça Nerd. Dá uma passada por lá! =)
Desde o momento em que decidi escrever sobre os filmes que assisto, tenho percebido que o comprometimento comigo mesmo na atenção desprendida para essa atividade tem evoluído com o passar dos anos.
Não, não quero e nem vou tentar ser um crítico pé no saco que caga regras de como um filme deve ou não deve ser feito. Tenho sim gosto duvidoso para alguns filmes que considero "obrigatórios" e talvez, o que tenha de opinião nessa resenha, não vá de encontro a muitas das opiniões sobre esse filme.
Mas fato,
é que um olhar diferenciado sempre foi necessário para aqueles que gostam de histórias em quadrinhos. Muitas das histórias coloridas e cheias de onomatopeias escondem em seu cerne,
histórias que muitos filmes tidos como "ganhadores de Oscar" não superam. Contudo, como muitos dos rótulos que a nossa sociedade insiste em criar, as histórias em quadrinhos, ou HQs para os íntimos, foram tachadas como "coisa de criança".
Décadas de histórias incríveis se passam e eis que chegamos aos anos 2000, onde a Fox, depois de uma negociação que salvou a Marvel,
adquiriu os direitos de uma série já bem conhecida do público no só dos quadrinhos, mas também dos desenhos animados, que causou muita comoção em sua estréia. E o primeiro passo foi dado para o que hoje se conhece como o "universo dos super-heróis" no cinema. Fato é que muitos erros e poucos acertos foram alcançados não só pela Fox, mas pela própria Marvel, Sony e Warner (universo DC) e hoje, temos de certa forma, e aos trancos e barrancos, um segmento já consolidado.
Mas, como todo segmento, chega um momento em que as ideias, que já não são 100% originais, acabam por se tornarem genéricas e causam incomodo aqueles que já conhecem esses universos, esses personagens. Arriscar algo seria necessário, e o primeiro passo foi dado por essa mesma Fox, que arriscou com "Deadpool"
e mostrou que haveria uma outra maneira de mostrar os heróis de uma maneira mais adulta e madura.
Afinal de contas, um universo com riquezas de enredos e temas dos mais variados, não deveria se limitar somente ao velho contexto "do bem contra o mal". Warner, Marvel e Fox se arriscaram (oi, Sony?) e o que encontramos em filmes como "Batman vs Superman", "Capitão América: Soldado Invernal" e "Deadpool" arriscam em mostrar os heróis por uma ótica mais "realista" e que fazia jus ao histórico desses personagens em suas respectivas HQs.
Então, chegamos a Logan!
A necessidade de acerto em filme dos X-Men era mais do que urgente. O fiasco que foi "X-Men: Apocalipse", após um reboot de sucesso, mostrava que a fórmula usada já não estava funcionando. Era preciso ir além. Então, o diretor James Manglod, que já havia trazido para a franquia um ar diferenciado em "Wolverine: Imortal", resolveu arriscar ainda mais.
Vendo no sucesso de "Deadpool" uma brecha para mostrar que era possível um enredo mais pesado, e tendo como base para o roteiro uma das HQs mais aclamadas do personagem, se deu início ao filme que, conseguiu com uma autenticidade única, e se coloca nesse seleto grupo de filmes que redefiniram esse novo gênero tão querido de Hollywood.
Sim, já digo antes de qualquer coisa que "Logan" (2017)
é um dos melhores filmes de super-heróis já feitos, e não só isso:
um dos melhores filmes do ano com toda certeza!
Não só do ano. Arrisco ainda dizer que toda a construção de roteiro feita para esse filme o coloca em um patamar totalmente diferente. Não é só a violência visceral, que mostra não só o sangue que jorra a cada ataque das garras de Logan, mas também a violência psicológica que anos de batalhas causaram ao velho X-Men.
O ano é 2029.
Já não existem grupos de mutantes usando roupas coladas lutando contra o vilões nas ruas das grandes cidades. A luta, dos que sobreviveram aos anos de perseguição e batalhas, agora é diária e tão corriqueira como a de qualquer humano.
A marcas desses anos são perceptíveis em Logan (Hugh Jackman, em seu canto do cisne) e o trabalho de motorista de limousines é algo que ainda causa certo problemas, mas em uma sociedade totalmente afundada em uma melancolia profunda, se torna nada. A fuga de um passado marcado não só em seus pensamentos, mas agora também na pele, já que o seu fator de cura não é mais o mesmo, é constante e cansativa.
E o que se percebe, é que esse não é filme sobre salvar o mundo. E não é o mundo que está melancólico. Logan, não mais o Wolverine, é que deve lutar. Pela sobrevivência. Uma luta diária e tem como parceiros nessa nova luta, Caliban (Stephen Merchant), que se redimiu de seu passado e ajuda nos cuidados de um Professor Xavier (Patrick Stewart, também em seu canto do cisne) esquizofrênico e que também sofre com os fantasmas do passado.
A viagem que o filme joga o espectador, não é só pelas estradas que os personagens percorrem. Mas também, pelo entendimento das angustias, os pesadelos e traumas que movem os outrora heróis, para um destino desconhecido.
Mas, essa luta que não é mais entre o bem e o mal, e sim interna, acaba sendo interrompida quando a garotinha Laura (Dafne Keen) cruza o caminho deles e eles se veem compelidos a ajudar a garota a chegar em um lugar chamado Éden.
Laura, como acabam descobrindo, é um dos vários experimentos que a empresa liberada pelo Dr. Zander Rice (Richard E. Grant) andou fazendo com o DNA de vários mutantes, e Laura acaba sendo o resultado da utilização do DNA de Logan. Como codinome, lhe foi dado o X-23.
Para a captura da fugitiva, somos apresentados grupo paramilitar que trabalha para a companhia de Rice, liberados pelo ciborgue Donald Pierce (Boyd Holbrook). Apresentados os personagens, somos inseridos em um road movie que entrega um dos roteiros mais consistentes e coeso entre todos os filmes dos X-Men.
O trabalho feito por Mangold em parceria com a dupla Michael Green e David James Kelly, bebeu de uma fonte super aclamada, mas apenas no conceito de filme de estrada e a ideia que Mark Millar desenvolveu em "Velho Logan". Mas mais do que isso, pegou o material que os filmes da série entregaram, e como um guia, contaram uma história, robusta, adulta e a muito pedida pelos fãs.
Era muito importante que Jackman e também Patrick Stewart, deixasse esses personagens de forma ímpar.
E a atuação da dupla, prova que entre os maiores acertos de toda essa franquia, a escalação desses dois está nessa lista.
Por se tratar de um filme intimista, a apresentação de uma nova persona para esse mundo mutante até pode soar estranho. Mas em meio ao adeus, o olá de Dafne Keen a esse mundo é muito, mas muito bem-vindo. Impressiona como em meio ao peso de algumas cenas, a garota entregue tanto, ou talvez até mais, em alguns momentos, vontade e verosimilhança.
Um filme que mostra a verdadeira essência desses personagens.
Pois a palavra herói, por mais que seja dita muitas vezes com algo já passou, ainda lateja nas atitudes e ações de Logan. O futuro distópico desse universo, se mostra tão real que impressiona.
Nesse conjunto de fatores positivos, talvez o único ponto a ser colocado em questão seja um só:
O PORQUE DIABOS DEMORARAM TANTO TEMPO PARA TER A CORAGEM DE UMA CENSURA MAIS ALTA?
É um fato que se mostra totalmente a favor de uma necessidade que o personagem sempre teve. Os fãs dos quadrinhos que conhecem o personagem até melhor do que esse que vos escreve podem afirmar com mais propriedade, mas fato: a censura maior só favoreceu o filme.
Não pela violência pela violência. Mas pelo contexto em que essa violência se apresenta. E James Manglod foi o diretor, que já havia riscado a superfície na tentativa anterior, agora entrega o Wolverine e o Logan que há tempos todos queríamos ver.
Um filme obrigatório.
Não só aos que são fãs dos X-Men, não só aos que são fãs de quadrinhos, mas a todos que gostam de um bom filme. Logan é um filme que aborda a luta de um homem, que assim como todos, luta diariamente para ir busca daquilo que acredita. Ele ser um mutante já em final de carreira como protagonista é só um detalhe.
Mas olha, vou te confessar: é um BAITA detalhe.
Faça-se o favor então, e vá ao cinema hoje ver Logan.
AVALIAÇÃO DO ALTER EGO:
TRAILER:
Aqui e
aqui.
FICHA TÉCNICA
Logan - 2017 - 135 min. - EUA - Ação/Drama
Direção: James Mangold
Roteiro: Michael Green, Scott Frank, James Mangold
Elenco: Hugh Jackman, Dafne Keen, Patrick Stewart, Richard E. Grant, Boyd Holbrook, Stephen Merchant
Site Oficial: http://www.foxmovies.com/movies/logan